terça-feira, 28 de junho de 2011

Alguns conceitos de Educação Ambiental

Alguns conceitos de educação ambiental
1) Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999.
Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.


DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

Art. 3º Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:

I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

(...)

V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente.

2) “Consideramos que a educação ambiental para uma sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetário. Consideramos que a preparação para as mudanças necessárias depende da compreensão coletiva da natureza sistêmica das crises que ameaçam o futuro do planeta. As causas primárias de problemas como o aumento da pobreza, da degradação humana e ambiental e da violência podem ser identificadas no modelo de civilização dominante, que se baseia em superprodução e superconsumo para uns e subconsumo e falta de condições para produzir por parte da grande maioria.

Consideramos que são inerentes à crise a erosão dos valores básicos e a alienação e a não-participação da quase totalidade dos indivíduos na construção de seu futuro.” (fonte: Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global)

3) “Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política."

terça-feira, 14 de junho de 2011

ECOLOGIA E ESPIRITUALlDADE


A Carta da Terra, um dos documentos éticos mais consistentes dos últimos anos e já assumido peta Unesco representa a nova consciência ecológica da Humanidade, O texto abre com estas palavras dramáticas:
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.

Esse alarme não é infundado, pois nas últimas décadas temos construído o principio da autodestruição. A máquina de morte das armas nucleares, químicas e biológicas é de tal destrutividade que somente com uma porcentagem delas podemos danificar substancialmente a biosfera e abortar o projeto humano. Como espécie Homo sapíens et demens - temos ocupado já 83% do planeta, explorando para nosso proveito quase todos os recursos naturais. A voracidade é tal, que temos depredado os ecossistemas a ponto de a Terra ter superado já em 20% sua capacidade de suporte e regeneração. Mais ainda, fizemo-nos reféns de um modelo civilizatório depredador e consumista que, se universalizado, demandaria três planetas semelhantes ao nosso. Evidentemente isso é impossível, o que comprova a falta completa de sustentabilidade de nosso modo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Não são poucos os analistas do estado da Terra que advertem: ou mudamos de padrão de relacionamento com a Terra ou vamos ao encontro do pior.

A URGÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE NA CRISE ATUAL
É nesse contexto dramático que surge a urgência da espiritualidade. Ela possui um valor em si, independentemente das conjunturas históricas, como essa descrita acima. Mas, atualmente, em situação de alto risco, parcamente conscientizado pela maioria dos seres humanos, ela é invocada urgentemente, pois representa uma das fontes secretas de um novo modo de ser que nos poderá salvar. Por que, exatamente, a espiritualidade? Porque em seu seio, normalmente, irrompem os grandes sonhos para cima e para frente, sonhos que podem inspirar práticas salvacionistas. Notáveis antropólogos, como Claude Lévi-Strauss e C. Geertz, têm afirmado que quando um paradigma civilizatório entra em crise, quando as estrelas-guias se obnubilam e o horizonte de esperança de um povo perde sua capacidade de gerar sentido, emerge, irreprimivelmente, a espiritualidade. É o que ocorre hoje, praticamente, em todas as culturas e no mundo inteiro.
Que significa aqui a espiritualidade? Sem detalharmos a resposta que surgirá logo a seguir, espiritualidade é uma nova experiência do ser, o irromper de um novo sonho, o vislumbrar de uma outra ordem, capaz de ordenar o caos que se instalou. Trata-se aqui de uma experiência de sentido novo, e não de um saber codificado. Tudo o que tem a ver com a experiência profunda do ser humano, com seu mergulhar nas raízes últimas da realidade, antes que esta se organize em ordem e sistema, em saber e instituição, constitui o campo da experiência do espírito, donde vem espiritualidade. Espírito representa a força criadora e ordenadora presente no ser humano, a capacidade de rasgar sentidos novos a partir das virtualidades presentes na própria realidade. Desta experiência espiritual nascem os paradigmas civilizacionais, capazes de fazer outra história e suscitar esperança às comunidades humanas e às pessoas.
Normalmente, a espiritualidade encontra seu nicho natural no seio das religiões. Elas nascem da experiência espiritual do fundador, do profeta e do carismático. No seio delas se elaboram as grandes utopias da Humanidade, visões de um sentido que transcende a fugacidade dos tempos e alcança a transcendência e a eternidade. Em épocas de crise, constituem elas o húmus fértil de novas perspectivas. São elas que permitem a passagem de um paradigma a outro, mantendo o continuum da história humana.
Mas a espiritualidade não configura monopólio das religiões, embora sejam o campo privilegiado de sua emergência e expressão. A espiritualidade representa uma dimensão do profundo humano. Ela pertence estruturalmente ao ser humano com o mesmo direito de cidadania como o poder, a sexualidade, a racionalidade e o enternecimento Por isso ela emerge nas pessoas mesmo que estas não tenham nenhuma inscrição religiosa definida. Esta espiritualidade antropológica deverá ser evocada quando abordarmos o tema da espiritualidade e da ecologia.
Por fim, há de se superar o antropocentrismo, tão visceral em nossa cultura. A espiritualidade se dá nas religiões e em cada ser humano, mas ela vai além, se encontra também na própria estrutura do universo. O espírito está em nós porque, anteriormente, está no universo, do qual somos parte e parcela. A Carta da Terra alude a isso quando se refere ao nosso "parentesco com toda a vida" e ao "mistério da existência", em face do qual cabe nossa "reverência, humildade e gratidão”.
Em nossa exposição obedeceremos à seguinte estratégia: em primeiro lugar, consideraremos a contribuição da espiritualidade de fundo religioso para a preservação ecológica; em segundo lugar, nos acercaremos da espiritualidade antropológica e seu significado para a ecologia; e, por fim, a espiritualidade cósmica como derradeira atitude de benevolência e comunhão com toda a realidade.

A ESPIRITUALIDADE RELIGIOSA: O MUNDO É SACRAMENTO
As religiões todas vêem a realidade sub specíe aetemítatís (na perspectiva da eternidade), vale dizer, na ótica de Deus. Deus é experienciado como a Fonte originária de todo o ser. Ele é experienciado como criador, provedor e sustentador do céu e da terra e de tudo o que eles contêm. Ao criar, ele deixou marcas de seu gesto divino em todas as coisas. Todas são seus filhos e filhas. Ele não se deixa ver diretamente. Mas transparece em tudo que saiu dele. Por isso o universo, as estrelas, a imensa diversidade dos seres, especialmente os vivos e entre eles os seres humanos, comparecem como sacramentos de Deus. Vale dizer, são sinais de sua inefável presença e instrumentos de sua atuação no mundo. Ele não tem senão nossos braços para mover o mundo humano.
Para a pessoa religiosa, tudo vem perpassado de energias divinas, como o testemunham tão bem as religiões afro-brasileiras entre outras. Em face delas, se impõem a reverência, o respeito e a devoção. Deus está presente no mundo e o mundo em Deus, sem distância e mediação. É o que a teologia cristã chama de panenteísmo e que outras tradições conhecem por termos equivalentes. Mas importa não confundir panenteísmo com panteísmo. No panteísmo, tudo, indiferenciadamente, é Deus: os objetos, as montanhas, cada pessoa. No panenteísmo se mantém a diferença irredutível (um é Criador e o outro é criatura), mas se acentua a mútua presença e a interpenetração.
Na teologia cristã se prolonga esta intuição com a fé na encarnação de Deus. Ele assumiu o ser humano e, através dele, de alguma forma, todas as coisas. Elas começam a pertencer a Deus. Deus se faz ser humano para que ó ser humano junto com todo o universo se faça Deus. Tal evento confere uma dignidade inaudita a cada criatura, pois comparece corno lugar onde Deus mesmo pode ser encontrado.
Diz-se também que o Espírito penetrou a criação, vitalizando-a e conduzindo-a rumo a sua culminância bem-aventurada, quando explodirá e implodirá para dentro de Deus. Uma antiga tradição transmitida pelos místicos da Igreja Ortodoxa grega diz: "O Espírito dorme na pedra, sonha na flor, acorda nos animais e sabe que está acordado nos seres humanos." Ele é o Spírítus Creator
Esta é a compreensão dos professantes da fé cristã. Isso, entretanto, não é ainda espiritualidade, mas doutrina. A espiritualidade surge quando a doutrina deixa de ser doutrina e passa a ser experiência interior, quando passa do intelecto para o coração. Então ela se transforma em comoção e celebração Não basta dizer que todos os seres são filhos e filhas de Deus. Para fazer surgir a espiritualidade, importa sentir essa verdade, abraçar a cada ser, cuidar dele como se cuida de um ente querido. Foi o que vivenciou Francisco de Assis com sua mística cósmica. Abraçando o mundo, ele estava abraçando Deus e vendo-o na lesma do caminho, no irmão Sol e na água cristalina. .
Essa experiência é carregada de conseqüências ecológicas. Precisamos de reverência e cuidado em face de cada ser. Aí descobrimos a fraternidade e a sonoridade universais. Só assim pomos limites à nossa voracidade e regressamos à comunidade terrenal e cósmica da qual nos exilamos.

ESPIRITUALlDADE ANTROPOLÓGICA: O PONTO DEUS
O ser humano possui, em primeiro lugar, exterioridade expressa pelo corpo. Mediante ele, somos parte do universo, compostos com os mesmos elementos físico-químicos que as estrelas, e nos fazemos presentes uns aos outros. Em segundo lugar, o ser humano possui também interioridade expressa pela nossa psique. É o universo de desejos, emoções, imagens poderosas, arquétipos, idéias, visões de mundo que estão dentro de nós. Ao captarmos pelos sentidos corporais e espirituais ou pela intuição as coisas, elas são internalizadas e se transformam em imagens e símbolos. Elas falam e nós podemos captar sua mensagem. A montanha não é apenas montanha. Ela nos evoca majestade. O mar encapelado não é apenas mar. Ele nos faz entender o que é a violência indomável. Os olhos de uma criança não são apenas olhos. Eles revelam o mistério e a profundidade da vida. A pessoa amada, já o dizia Freud, é sempre também a pessoa imaginada, idealizada e transfigurada.            .
Nós não existimos senão que coexistimos, sempre junto com outros seres com os quais mantemos relações de troca e de inter-retro-dependência. Nosso eu não fica recluso em si mesmo, mas ele é habitado pela casa que habitamos, pela rua familiar em que moramos, pela cidade natal em que vivemos, pelo local de trabalho onde exercemos nossa profissão, pelos animais domésticos, pelas paisagens inesquecíveis de nossa história pessoal, pela pátria que amamos e pela Terra, a única Casa Comum que temos para habitar. Essas realidades não são meros fatos, são valores, o mundo das excelências. Sem eles morre ríamos de esterilidade e de solidão.
O ser humano possui também profundidade. Só ele coloca questões terminais, sempre presentes na agenda humana: de onde viemos, para onde vamos, que estamos fazendo aqui no mundo, que podemos esperar depois desta vida, por que sofremos com a traição do amigo e choramos tanto com a morte da pessoa querida? O que se esconde por detrás das estrelas? Qual é o fio condutor que tudo sustenta e faz com que o universo não caia sobre nossas cabeças, mas surja como harmonia sutil que encantou os salmistas como Davi e fascinou cientistas como Einstein? Por que o ser humano é perpassado por uma ânsia infinita de felicidade e de vida sem fim? Ele identificou na evolução cósmica aquele Vazio fecundo, aquele Estado de energia insondável de fundo, do qual tudo promana, a presença do Mistério que cerca todas as coisas, que as culturas humanas chamaram de Deus. Com Ele pode se relacionar na oração, que é um dialogar e intercambiar amorosamente com Deus. Pode entregar-se à meditação pela qual escuta o que Ele tem a dizer. Quando tais eventos bem-aventurados surgem, aparece aquilo que é a dimensão do profundo do ser humano, aquilo que chamamos espírito. Especialmente aparece o espírito quando na nossa consciência nos sentimos parte e parcela do Todo que nos desborda. E quando emerge em nós a responsabilidade pelo mundo ao nosso derredor, damo-nos conta de que podemos ser o Satã da Terra, bem como seu anjo bom e protetor. Somos chamados a ser o jardineiro que cuida e completa a obra deixada incompleta por Deus. É então que irrompe em nós a dimensão ética, de cuidado e responsabilização pelas coisas ao nosso redor. Espiritualidade consiste em cultivar esse espaço de profundidade, em enriquecer o centro de nós mesmos, em alimentar a dimensão do espírito com a amorosidade. a solidariedade, a compaixão, o perdão e o cuidado para com todas as coisas. Por tais valores e atitudes se revela o espírito e se urde a espiritualidade. Quando vivemos esta espiritualidade nos sentimos engrandecidos.e.nos descobrimos como projeto infinito. Somente o Infinito pode saciar nossa fome infinita.
Pesquisas recentíssimas, do final do século 20, feitas por neuropsicólogos (Michael Persinger e V. S. Ramachandran), por neurologistas (Wolf Singer. por neurolingüistas (Terrance Deacon) e por técnicos em magnetoencefalografia, detectaram o que foi chamado o "ponto Deus" no cérebro. Sempre que se abordam as questões espirituais elencadas acima verifica-se empiricamente uma excitação nos lobos frontais do cérebro. Esses lobos frontais estão ligados ao cérebro límbico, o centro das emoções e dos valores. Isso significa que a percepção do "ponto Deus" está vinculada não a uma idéia, mas a um fator emocional e experiencial, como dizíamos, à espiritualidade. Esse "ponto Deus" surgiu no processo cosmogênico e antropogênico para atender a um propósito evolutivo: captar e conscientizar, através do ser humano, a presença de Deus na dinâmica universal e em cada coisa. É no ser humano que irrompe esta consciência de Deus e do Sagrado. É nele que se elabora a espiritualidade. Em razão disso, afirmam estudiosos como a física quântica Danah Zohar e o psiquiatra lan Marshall que nos seres humanos não vigora apenas a inteligência intelectual e a inteligência emocional, mas também a inteligência espiritual.
Transformando esse dado objetivo, a inteligência espiritual, em projeto consciente, reforçamos a espiritualidade como dimensão central de uma vida aberta, sensível, atenta às múltiplas dimensões do humano. Esta espiritualidade nos leva a cuidar da vida em rodas as suas formas porque vemos nelas excelência e valor. Tudo que existe merece existir. Tudo que vive merece viver. Ela nos ajuda a superar a perigosa lógica do interesse, dominante hoje, pela qual dominamos e nos apropriamos das coisas para o nosso uso e desfrute. Ela nos facilita a darmos lugar à lógica da convivência, da cordialidade, da reverência em face da" alteridade e da comunhão com todas as coisas e com Deus. A integração da inteligência espiritual às outras duas formas de inteligência (a intelectual e a emocional) nos abre à comunhão amorosa com todas as coisas, numa atmosfera de respeito e de reverência para com os demais seres, a maioria deles muito mais ancestrais que nós, acolhidos como companheiros e companheiras na grande aventura terrenal e cósmica.

O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE E ESPIRITUAL
Nas reflexões da moderna cosmologia e física quântica (como em David Bohm, lIya Prigogine, Danah Zohar, Brian Swimme, A Goswami e o!Jtros) se sustenta a tese segundo a qual a consciência e o espírito são fenômenos quânticos, que emergem do transfundo das infinitas virtualidades da Fonte alimentadora de tudo (vácuo quântico). Assim como nosso ser físico surgiu no processo cosmogênico, assim também nosso ser espiritual. Ambos são tão ancestrais como o universo. Por espírito se entende a capacidade das energias primordiais e da própria matéria de interagirem entre si, de se autocriarem (autopoiese), de se auto-organizarem, de se constituírem em sistemas abertos, de se comunicarem e formarem teias cada vez mais complexas de inter-retro-relações que sustentam o inteiro universo. O espírito é fundamentalmente relação, interação e auto-organização em distintos níveis de realização. Desde o primeiríssimo momento da explosão primordial criaram-se relações e interações, gestando unidades ainda rudimentares (dois quarks e prótons) que foram se organizando de forma sempre mais complexa. Era a alvorada do espírito. O universo é cheio de espírito porque é reativo, pan-relacional e criativo, Nesse sentido não há seres inertes, à diferença de outros setes, chamados vivos. Todos participam, em seu grau, do espírito, da consciência e da vida. A diferença entre o espírito de uma montanha e o espírito humano não é de princípio, mas de grau. O princípio de interação e criação se realiza em ambos, apenas de forma diferente. O espírito humano é esse espírito cósmico que chega à autoconsciência, à fala e à comunicação consciente. O espírito que perpassa todas as coisas ganha uma concretização especial nos homens e nas mulheres.
Se o espírito é vida e relação, então o seu oposto não é matéria, mas morte, ausência de relação. A matéria é um campo altamente carregado de energia e de interações. Espiritualidade, neste contexto, é a potenciação máxima da vida, é compromisso com a proteção e expansão da vida. Não apenas da vida humana, mas da vida em toda a sua incomensurável diversidade e em todas as suas fases de realização.
Vivenciar o universo como vivente, a Terra corno Gaia, superorganismo vivo e Grande Mãe, sentir a natureza como fonte de irradiação vital e comungar com cada ser que encontramos como portador de propósito, irmão e irmã de aventura nesse imenso universo, é mostrar -se um ser espiritual, é realizar a espiritualidade ecológica em grau eminente, hoje absolutamente necessário à sobrevivência da biosfera.
O futuro da Terra como um planeta pequeno e limitado, da Humanidade que não para de aumentar, dos ecossistemas fatigados pelo excessivo estresse do processo industrialista, das pessoas humanas, confusas, perdidas, espiritualmente embotadas mas ansiosas por formas de vida mais simples, transparentes, autênticas e cheias de sentido, esse futuro depende de nossa capacidade de desenvolvermos ou não uma espiritualidade ecológica. Não basta sermos apenas racionais e religiosos. Mais que tudo, temos que ser sensíveis uns aos outros, cooperativos em todas as nossas atividades, respeitadores dos demais seres da natureza; numa palavra, devemos ser espirituais. Só então irradiaremos como seres responsáveis e benevolentes com todas as formas de vida, amantes de nossa Mãe Terra e veneradores da única Fonte donde promana todo ser e toda bem-aventurança.

Leonardo Boff

domingo, 5 de junho de 2011

Gestão Ambiental - Vídeo Temático da Profissão

O antagonismo Entre o Modo de Produção Capitalista e a Questão Sócio-Ambiental Parte Final

2 O Caráter Religioso do Sistema Capitalista

Nós somos resultados do sistema capitalista e ao mesmo tempo neles vivemos. Característica da pós-modernidade é o assento religioso do capitalismo. Usarei uma metáfora usada em uma palestra do Frei Beto. Os templos modernos são os shoppings Center, tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas a ele se freqüenta com roupa de missa de domingo. Lá não tem mendigo nem crianças de ruas, não há ruídos nem lixo. Agente entra naquele claustro maravilhoso com canto gregoriano pós-moderno. Entramos nas capelas de consumo e percebemos as lindas sacerdotisas e os sacerdotes de plantão. E contemplamos os veneráveis objetos de consumo, se não puder comprar é um inferno. Se for entra no cheque especial ou no cartão (o purgatório) não importa, se pode pagar em dinheiro está no céu. Vai doer mais eu vou levar. Na saída todos se irmanando na eucaristia pós-moderna o hamburge do Mc Donald e a coca-cola. É uma estrutura sumamente religiosa. O mundo se divide em outro paradigma que não é o teocêntrico nem o antropocêntrico, mas o mercadológico, aqueles que podem comprar e os que não podem comprar. Aqueles que estão dentro e fora do mercado. Frei Beto relata que visitou um shopping e contemplou os sacerdotes e as sacerdotisas a porta das capelas mostrando os veneráveis objetos de consumo. Um se aproximou e disse: _ Posso ajudar? O Senhor deseja alguma coisa? _ Não, eu estou apenas realizando um passeio socrático. Ai os vendedores o olharam com estranheza e ele explicou. _ Sócrates foi um filósofo grego que morreu no ano 399 a. C. morava em Atenas e pra refrescar a cabeça ele percorria as ruas e centros comercias da cidade, e rapazes e moças como vocês chegavam à porta das lojas e faziam pra ele exatamente as mesmas perguntas que você me fez. Ele respondia. Estou apenas observando quanta coisa existe que eu não preciso para ser feliz. O problema é que o sistema neoliberal capitalista de hoje não quer que sejamos cidadãos mais consumidores.





Conclusão

Precisamos de uma mudança paradigmática, pois o paradigma norteador da sociedade capitalista continua inalterado. E toda essa onda de economia sustentável advém de uma mudança comportamental para se atingir um novo público de consumidores, porém não é uma mudança de valores.
O modo de produção capitalista só se mantém destruindo as forças produtivas, quer dizer, arrasando os dois suportes que o possibilitam: a força de trabalho e o meio ambiente.
O sistema atual regido pelo capital não tem levado os seres humanos a construírem nada em comum, pois o consumismo, a competição, o acúmulo e a ostentação tem se sobrepujado em detrimento da solidariedade, da caridade e da compaixão.
A humanidade alienada e entorpecida com a ideologia neoclássica só se solidariza com o próximo em meio à tragédia e ao caos. Como afirmar Milton Santos: “Nunca houve humanidade, mas ensaios de humanidade”. (Santos, 2000)
Deixamos de ser cidadãos e seres racionais e somos levados como marionetes pela mídia e pelo fetichismo das mercadorias. São os objetos que nos controlam e perdemos o autocontrole e a capacidade de dizer não ao supérfluo. Até as nossas crianças narcotizadas pelo sistema vigente aprendem muito cedo o verbo comprar, mas desconhecem o verbo partilhar.
Estamos inseridos numa cultura que dissemina compulsão e consumismo, e que através de sua ideologia e marketing associa os produtos a um conceito de felicidade. Felicidade esta que dura pouquíssimo tempo e nos remetem de novo as compras. 
  A sociedade capitalista criou dois tipos de injustiça: a injustiça social e ecológica. Se nos mantivermos assim a nossa espécie estará condenada a não adentra o próximo século. Pois nos restam dois caminhos, ou permanecemos neste advogado pela mídia e pelos mecenas do capital, que é o caminho de morte e da tragédia da civilização humana. Ou nos convertemos à vida. Passemos a ouvir o clamor dos oprimidos desse sistema perverso: o pobre, a fauna, a flora, ou seja, a biodiversidade como um todo.
Devemos como os únicos seres éticos e racionais desse planeta defender a vida em detrimento da morte. E como nos ensinam as tradições dos povos primitivos: devemos ser os mordomos da criação e não os assassinos e suicidas planetários.                                                                                          

O antagonismo Entre o Modo de Produção Capitalista e a Questão Sócio-Ambiental Parte III

Capitalismo e Questão Social

Hoje quatro bilhões dos quase sete bilhões de seres humanos que habitam o planeta vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, recebem menos 2,00 dólares por dia 60,00 dólares por mês. E desses quatro bilhões, 1,4 bilhões vivem abaixo da linha da miséria que tecnicamente significa a renda de um dólar por dia ou 30,00 dólares por mês.  
De cada três pessoas que nascem viva, duas estão abaixo da linha da pobreza. Como nos assevera Leonardo Boff:

“O ser mais ameaçado da natureza hoje é o pobre. Setenta e nove por cento da Humanidade vive no grande sul pobre; 1,4 bilhões de pessoas vivem em estado de pobreza absoluta; 3,5 em (sobre 6,5) bilhões têm alimentação insuficiente; 60 milhões morrem anualmente de fome e 14 milhões de jovens abaixo de 15 anos morrem anualmente em conseqüência das doenças da fome. Face a esse drama, a solidariedade entre os humanos é praticamente inexistente”. (Boff, 2009)    

Os outros restantes da humanidade são meros premiados pela loteria biológica, pois ninguém escolheu a família que nasceu. E isso não é um privilégio, mas uma dívida social.
O capitalismo fracassou para dois terços da humanidade e tem ampliado esse fracasso. A pobreza e a desigualdade são produtos desta forma de produção do modo civilizatório capitalista. Pois nós temos os meios econômicos e tecnológicos de erradicar a pobreza.
O sistema vigente criou desumanos sofrimentos e gritantes desigualdades. Tem como pilar um individualismo exacerbado, e demonstrou-se incapaz de assegurar o bem estar social da humanidade.
Os avanços da ciência e tecnologia são reais, porém seletivos, não são pra todos nem estão acessível a todos. Pesquisadores gastam fortunas em pesquisa que muita das vezes não dá em nada, ou seja, é uma esdrúxula ideologia de que só se investem naquilo que produz lucro. “Por isso quase não se investe no social. E quando o poder público põe dinheiro na questão social se chama de gasto e nunca de investimento, por isso que se dá esmola para os pobres. E não criam condições para que eles possam se emancipar da miséria e da pobreza”. (Libâneo, 2008)
O capitalismo é um sistema perverso e hipócrita, pois tem alegado há muito tempo não possuir recursos para garantir educação, saúde e mitigação da miséria e fome mundial. Mas gastam bilhões de dólares financiando conflitos e guerras e com a industrial de armamentos.
O exemplo de tamanho desrespeito a humanidade foi à crise do sistema financeiro internacional em 2008, que fez os Estados Unidos mobilizar três trilhões de dólares para socorrer bancos, corretoras e montadoras.
“Um sistema que desconhece o amor, a caridade, e a compaixão e que se fez cego e surdo ao apelo dos necessitados. (Boff, 2009b)   

1.3 Desemprego

Os problemas do capitalismo são visíveis quando o tema é desemprego, pois o mundo atingiu um nível muito alto de desemprego, segundo geógrafos e historiadores fato que só havia acontecido, em proporções similares, após a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929.
“Segundo os órgãos internacionais, existem hoje, aproximadamente, 850 milhões de pessoas desempregadas, algumas profissões foram superadas outras extintas, o crescimento constante de tecnologias provocam alterações no mercado de trabalho em todo o mundo”.[1]
Herança da revolução industrial inglesa, as máquinas hoje ao mesmo tempo em que geram benefícios, agilizam o tempo e são imprescindíveis a vida humana, por outro lado criam milhares de desempregados, pois os homens são substituídos pelas mesmas.
Esse fenômeno de maquinários moderno é percebível até mesmo em países em desenvolvimento, pois muitas fábricas e industriais estão se modernizando em tais países para concorrerem num mercado cada dia mais competitivo, assim sendo, eles aumentam sua qualidade e rapidez no processo de fabricação.
Nessa dinâmica e avanço tecnológico milhares de postos de emprego estão expostos ao risco de desaparecimento. Quem não acompanhar essa evolução ficara a margem, porém para acompanharmos temos que ter condições financeiras para tanto, com isso um exército crescente de miseráveis aumenta a cada dia, pois não conseguem se inserir nesse contexto perverso e desumano.
Cabem as nossas autoridades ter vontade política para encontrar as soluções para equacionar esse problema. Aliar tecnologia e empregabilidade, pois é através do seu trabalho que os seres humanos tiram seu sustento e sustentam seus entes queridos, pois sem trabalho e conseqüentemente renda estará pondo em risco sua existência. 


[1] Fonte: Almanaque Abril, 2010.

O antagonismo Entre o Modo de Produção Capitalista e a Questão Sócio-Ambiental Parte II

1.1   Modo de Produção Capitalista X Meio Ambiente

Nunca se falou tanto em Meio Ambiente como nos dias atuais. A preocupação com a natureza é de fato uma tendência mundial irreversível. Pois depois de explorarmos e usarmos a Terra e seus recursos ao nosso bel prazer e ao longo de um vasto período de desenvolvimento industrial desprovido de ética e cuidado, só se preocupando com o lucro. Chegou à hora de revermos nossos conceitos e valorizarmos a vida.
Hoje é sabido que os recursos naturais não são inesgotáveis, devendo o desenvolvimento econômico ocorrer de maneira sustentável e planejada a fim de assegurar que os recursos naturais não se esgotem.                     
Não se pode desvincular os padrões e metas ambientais dos padrões e metas pretendidos para a sociedade humana. “Quanto maiores forem às aspirações de preservação ambiental, menores as possibilidades de crescimento socioeconômico e vice-versa. A natureza e suas leis nos ensinam que tudo estar interligado, interdependente e, que se algum lado ganhou, é porque o outro perdeu. (Braga et e tal, 2010, p. 49) 
A história do movimento ambientalista no mundo advém da proposta de alteração da racionalidade econômica desprovida de respeito à vida e a natureza para a ecológica. O ambientalismo nada mais é do que um questionamento profundo e ético da sociedade industrial de consumo.
O modelo capitalista baseado no mercado como instância reguladora da vida em sociedade, em que a política de desenvolvimento científico-tecnológico acontece sobretudo em função da demanda de mercado com a finalidade de maximizar os lucros – está conduzindo a humanidade ao caos, ao mesmo tempo que defende que este mesmo padrão técnico-industrial convencional que nos colocou nessa situação irá encontra a solução e nos arrebatar dessa condição caótica -. Estão defendendo que o que nos trouxe a essa crise sem precedentes será o remédio que nos tirará dela, apesar de todos os apelos e o bom-senso nos dizer que o melhor caminho é alterarmos toda a concepção da teoria neoclássica.
James Lovelock diz-nos metaforicamente que a humanidade é como o fumante inveterado, que continua curtindo seus cigarros, pensando em parar de fumar só quando o dano se tornar visível. (2006). Pior que isso a humanidade tem se portado como cancerosos em estado terminais que mesmo com o vislumbrar e o conhecimento de uma morte súbita, continuam a tragar seus cigarros.
Para Rogério Rocco, superintendente do IBAMA RJ, o modo de produção capitalista altera culturas e localidades:
A subjetividade capitalista, que entende o meio ambiente enquanto um patrimônio a ser apropriado, também age no sentido de apropria-se das culturas e dos espaços urbanos. As transformações sofridas pela degradação ambiental de uma localidade alteram a cultura daquela comunidade, pois rompem com uma cadeia ecológica e social e influenciam a formação de futuras gerações, modificando referências e valores comunitários. (Rocco, 2008)   
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito de todos (art. 225, CRFB). Isto demonstra a natureza pública deste bem, que leva sua proteção a obedecer ao princípio da prevalência do interesse da coletividade sobre o particular na questão de proteção ambiental. O bem de todos se sobrepondo ao bem individual.
Todavia os três séculos de desenvolvimento industrial e seu aumento paulatino com o advento da globalização têm demonstrado uma franca oposição ao que diz a nossa Carta Magma, pois a terra vem sendo violentada em prol do lucro de alguns poucos.
A modernidade separou o homem e a natureza, colocando ambos em oposição. Pois a sociedade capitalista transformou nosso planeta numa banca de negócios. Os recursos naturais, e todo o conjunto de biodiversidade estão ai para serem explorados e gerarem lucros. Aumentando excessivamente a oferta de produtos para consumidores alienados e insaciáveis.     
“{...} Estimativas atestam: que entre 1500-1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre 1850-1950, uma espécie por ano. A partir de 1989 passou a desaparecer uma espécie por dia. No ano de 2000, esta perda acontecia a cada hora. Ultimamente, a aceleração do desaparecimento é tão rápida que se calcula que no período de 1990-2020 terão desaparecido cerca de 10% a 38% das espécies existentes”. (Boff, 2009).
Tem uma frase que é atribuída a Gandhi, que diz: “A terra é suficiente a todos, mas não para a voracidade dos consumistas”. Devemos compatibilizar o aumento do conforto individual com a preservação ambiental.
Hoje, o estado do meio ambiente no mundo é extremamente preocupante, pois deixou de ser uma ameaça as espécies da fauna e flora, passando a representar uma ameaça à manutenção da vida humana neste planeta. 
Os efeitos do aquecimento global, poluição, extermínio de espécies e a manutenção da vida humana, têm contribuído para sensibilização das pessoas ao redor do mundo sobre as questões ambientais, tendo destaque na mídia e no discurso de campanhas políticas e grupos ambientalistas em todo planeta.
Uns dois mais destacados cientistas da atualidade, autor da teoria de Gaia e de dois livros instigantes e reflexivos: A Vingança de Gaia (2006) e Gaia Alerta Final (2009), ambos lançados pela Record, James Lovelock, nos afirma em entrevista:
“Até o fim do século, 80% da população humana desaparecerá. Os 20% restantes vão viver no ártico e em alguns poucos oásis em outros continentes, onde as temperaturas forem mais baixas e houver um pouco de chuva [...] Quase todo o território brasileiro será demasiadamente quente e seco para ser habitado.” (Veja, 20)
Grandes pensadores da atualidade têm apregoado a extinção da espécie humana da terra, pois a terra tem que se livrar do seu câncer, a humanidade, para que ela e outras espécies de vida possam viver e da continuidade a história evolutiva. Boff chama o homem de o Satã da terra de o homo sapiens et demens (2006, 2009). Pois nós somos ecocida e geocida. Edward Wilson em seu livro O futuro da Vida (2002, 121), afirma: “O homem até hoje tem desempenhado o papel de assassino planetário [...]” 
Théodore Monod, em seu texto reflexivo: “E se a aventura humana falhar?” (2002, 246-248). Afirma: “Somos capazes de uma conduta insensata e demente, pode-se a partir de agora temer tudo, tudo mesmo, inclusive a aniquilação da Raça humana”. (p. 246) acrescenta: “seria o justo preço de nossas loucuras e de nossas crueldades”.
Se nós percebermos o cenário trágico que a humanidade acometeu ao meio ambiente e a si mesmo através de uma conduta irresponsável e um modo linear de produção sem respeito à terra, veremos que é uma possibilidade palpável.
O Relatório Planeta Vivo de 2006 do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) declarou: “O ser humano consome 25% a mais do que a terra pode repor. Em 2050 precisaremos de duas terras como a atual para atender as demandas humanas.”                                                   

O antagonismo Entre o Modo de Produção Capitalista e a Questão Sócio-Ambiental Parte I

Introdução

Estamos vivendo um momento crucial da história humana. Pela primeira vez a espécie humana corre risco de ser extinta. Tudo por causa das ações irresponsáveis do homem, além das conseqüências advindas do sistema capitalista. Que tem se mostrado antagônico a questão social e ambiental.
Essa pesquisa pretende analisar o nosso modo de produção e suas implicações sociais, tais como: exploração, desemprego, miséria e a fome. E seus efeitos ambientais: desmatamento, destruição dos recursos naturais, aniquilação da flora e da fauna, poluição, entre outros.
Nosso objetivo é trazer uma reflexão crítica a nosso modelo civilizacional, mostrando que o mesmo demonstrou-se incapaz de assegurar o bem-estar da humanidade e da Terra.  Precisamos criar uma civilização mais solidária, ética e consciente.
Estamos num momento crítico. Ou mudamos o paradigma vigente que é de morte, desperdício e consumismo a fim de implantamos um novo paradigma, ou seja, uma nova relação com a natureza, com a terra e com o homem. De fato um novo modelo civilizacional.  
Os bilhões de seres humanos que vivem abaixo da linha da pobreza e Gaia (a terra viva e reguladora da vida) clamam e nos conclamam para uma mudança de atitude, para revermos nossos conceitos e valores.
A nossa Terra é um planeta limitado e não é capaz de suporta um projeto de extração de seus recursos ilimitados como quer o capitalismo. O capitalismo fracassou contra a humanidade e contra a terra.          
Devemos deixar um planeta habitável, tal qual recebemos das gerações que nos precederam, para as gerações vindouras. Nossos filhos e netos têm o direito de usufruir das mesmas maravilhas naturais que hoje usufruímos.


1 O Modo de Produção Capitalista

A exploração da natureza pelo ser humano sempre ocorreu, pois dela são tirados os meios de sobrevivência da espécie deste o surgimento do homo sapiens na pré-história. Porém essa exploração exacerbada da natureza ganhou um impulso descomunal após a Revolução Industrial inglesa do século XVIII, pois até esse momento da história o trabalho era feito de forma manual, artesanal, por escravos, trabalhadores servis, ou trabalhadores livres, o modo de produção era o mesmo e as poucas ferramentas utilizadas eram rudimentares.
Todavia, a revolução industrial trouxe consigo a criação da máquina a vapor e a aceleração da fabricação dos bens de consumo, o surgimento de grandes fábricas e a divisão do trabalho no meio fabril; trazendo consigo terríveis conseqüências ao homem e a natureza. Ao homem pela exploração do seu tempo de trabalho podendo chegar a 16 horas por dias, inclusive mulheres e crianças, a repetição contínua e extenuante do mesmo trabalho em condições de higiene precárias.
Ao meio ambiente, pois era dele que se tirava a matéria prima para a produção, principalmente o carvão vegetal no início e logo depois o carvão mineral, a exploração sem precedentes da natureza consumiu florestas nativas, poluiu o ar que fora contaminado com excesso de gases tóxicos, material particulado e fuligem das fábricas; contaminou as águas dos rios levando a extinção e o desaparecimento de inúmeras espécies da fauna e flora, aquática e terrestre.
Quem visitava Londres, Manchester e tantas outras cidades do centro de produção fabril da Inglaterra ficavam estupefatas com tamanha poluição, sujeira, e com a exploração dos trabalhadores.  
Karl Marx, Friedrich Engels, Weber e tantos outros teóricos do período em questão escreveram e criaram teorias para explicar o modo de produção capitalista, a mais valia e a exploração dos trabalhadores, dentre as obras vale destacarmos os volumes de O Capital, escrito por Marx. Muitos teóricos hoje de diferentes correntes metodológicas ainda tentam explicar o capitalismo a partir da revolução industrial, os mais destacados são Thompson e Eric Hobesbaw.
Mais de todos os teóricos que estudaram o Modo de Produção Capitalista Karl Marx é o mais destacado e suas teorias são estudadas por teóricos, intelectuais e especialistas para compreenderem o sistema.
Marx e Engels exilados em Bruxelas em 1845 escreveram o Manifesto do Partido Comunista, entre outras coisas eles afirmaram que o proletariado esmagado pelo capitalismo só tinha uma saída, à revolução e a implantação do comunismo em que os operários assumiriam o controle dos meios de produção, dividiriam os lucros de maneira igualitária e poriam assim o fim as lutas de classes, mas ele não viveu para vê suas idéias postas em prática e o que aconteceu na antiga União Soviética, China e Cuba foi uma deturpação da sua teoria.
Marx acreditava que os operários por serem a maioria na sociedade venceriam os capitalistas e iriam produzir uma sociedade mais justa. Ele analisou o capitalismo não como o fim da história, como afirmam os pensadores pós modernos, nem como a forma de sociedade correspondente à natureza humana, mas como um modo de produção historicamente transitório cujas contradições internas o levariam a destruição. Marx criou conceitos que se tornaram muito conhecido, como, por exemplo: o de mais-valia, capital variável, capital constante, exército de reserva industrial dentre outros, analisou a acumulação de capital, a distribuição de renda, as crises econômicas, etc.
 Capitalismo é o sistema econômico que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção por parte dos burgueses e detentores do poder e pela liberdade de iniciativa dos próprios cidadãos. O capitalista, proprietário das empresas, e do recurso financeiro compra a força de trabalho de terceiros para produzir bens que, após serem vendidos, lhe permitem recuperar o capital investido e obter um excedente denominado lucro, ou mais valia.
Para conceituarmos capital recorreremos ao sociólogo Octávio Ianni, em sua obra Teorias da Globalização (1996):

A princípio, por capital se entende um signo do capitalismo, o emblema dos grupos e classes dominantes em escala nacional, regional e mundial. Isto é, o capital de que se fala aqui é uma categoria social complexa, baseada na produção de mercadoria e lucro, ou mais-valia, o que supõe todo o tempo a compra da força de trabalho; e sempre envolvendo instituições, padrões sócio-culturais de vários tipos, em especial os jurídicos-políticos que constituem as relações de produção (Ianni, 1996).

O modo de produção capitalista é um processo civilizatório e idealístico que perpassa todo o globo terrestre. Envolve o ocidente e o oriente criando as bases de um novo mundo, destruindo ou recriando outras formas sociais de trabalho e vida, outras formas culturais e civilizatórias e o modo como lidamos com os outros seres e o meio ambiente.
O sistema neoliberal, regido pelo capital e pelas leis de livre mercado, que em sua natureza é voraz, acumulador, aniquilador do meio ambiente, criador de desigualdades e sem sentido de solidariedade tem atestado seu próprio fracasso.
  O capitalismo desenvolve-se de modo desigual, combinada e contraditória, ele expande-se pelas mais diferentes culturas e nações, exacerbado pelos processos de concentração e centralização, concretizando nos dias atuais sua globalização.
No final da segunda guerra mundial o capitalismo se desdobra num movimento de escala internacional. A famosa globalização. Que Milton Santos chama de Globalitarismo, em seu livro: Por Uma Outra Globalização (2000).

Enquanto que o capital, por um lado, deve tender a destruir toda barreira espacial oposta ao comércio, isto é, ao intercâmbio, e a conquistar toda a Terra como um mercado, por outro lado tende a anular o espaço por meio do tempo, isto é, reduzir a um mínimo o tempo tomado pelo movimento de um lugar a outro. Quanto mais desenvolvido o capital, quanto mais extenso é portanto o mercado em que circula, mercado que constitui a trajetória espacial de sua circulação, tanto mais tende simultaneamente a estender o mercado e a uma maior anulação do espaço, através do tempo. [...] Aparece aqui à tendência universal do capital, o que o diferencia de todas as formas anteriores de produção (o grifo é nosso) (Marx, 1985)

Com a globalização o capitalismo se universalizou. E com isso obriga que todas as economias dobrem seus joelhos a esse modo de produção perverso. A mundialização do mercado financeiro internacional que objetiva transformar o mundo em uma “aldeia global”, explorada pelas grandes corporações tem gerado integração e a interdependência econômica entre países, regiões e continentes. Essas empresas transnacionais dominam o mundo atual e exploram lugares longínquos do planeta, trazendo como conseqüência uma semi-escravidão, exploração inclusive de mulheres e crianças, tal como ocorria na primeira revolução industrial, desempregos em seus países de origem e danos irreversíveis ao meio ambiente.
O capitalismo é um modo produção econômico e social que se esgotou, embora continue dominante, pois o mesmo tem se manifestado como força bruta, implacável, alienadora e excludente. Os limites do capitalismo são os limites da Terra. Nós já chegamos nesse limite, pois exaurimos a terra, fauna, flora, os recursos naturais e humanos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

De Quem Foi a Culpa do Drama na Região Serrana do Rio

Bem, eu estava há alguns meses sem escrever no blog, motivo: se eu for caçar todos os falsos profetas e divulgar todas as asneiras e safadezas que saem das religiões eu ficarei escrevendo 24 horas por dia e não darei conta. Todavia, eu quero trazer minha opinião, opinião esta de um historiador e gestor ambiental com MBA na área de Planejamento e Gestão Ambiental, e sobretudo uma apreciação cristã para um assunto que tem suscitado debates e mal entendimentos.
O desastre que ocorreu na Serra do Rio de janeiro que deixou centenas de mortos, feridos, desalojados e desabrigados foi e estar sendo um episódio terrível para as famílias, para nosso estado e para nosso país. A solidariedade que tem tomado conta do nosso povo e nos irmanados é bem vinda, porém as marcas deixadas nunca serão de fato apagadas das memórias dos familiares dos mortos e daqueles que perderam tudo; só lhes restando a vida.
Em momentos assim surge à pergunta: Quem foi ou quem são os culpados da tragédia? E parece estar na moda nos últimos anos culparem Deus. Antes de estabelecer minha opinião cabe uma observação: não sou advogado ou apologista de Deus, pois Ele não precisa de tal coisa, muito menos contratou os meus serviços advocatícios, até porque nem em Direito tenho formação, e mesmo que tivesse seria incapaz de defender o indefensável. Por isso deixo logo claro que não estou fazendo uma defesa de Deus.
Mas como disse desde o Tsunami tenho ouvido centenas de pessoas porem a culpa em Deus, até pessoas religiosas têm pensando assim, por mais que não tenham coragem de dar seu parecer. O pastor Ricardo Gondim, certa feita fez isso e foi coagido por centenas de cristão a retratar-se.
Bem, vivemos um cenário mundial de crise social e ambiental sem precedentes. A humanidade desde que adotou o modo de produção capitalista que é voraz, predatório e aniquilador dos recursos naturais e humanos têm sentido de vez em quando a fúria da natureza. Se junta a isso a irresponsabilidade humana e de nossos governos de permitir que se ocupem locais impróprios para habitação; e não são só os pobres que residem em locais impróprios, ricos e milionários desafiam a natureza e fazem suas mansões em encostas de morros, matas ciliares e bem perto do mar.
O Brasil tem a melhor legislação ambiental do mundo. E até a nossa constituição tem um capítulo especial que trata do meio ambiente, o artigo 225. Na legislação ambiental esta expressamente estabelecida onde podemos e não habitar. E o nosso direito tem como pilar que nenhum cidadão pode alegar desconhecimento da lei, pois a mesma esta ao alcance de todos.
Mas a necessidade humana (dos pobres) que não tiveram direito a um lar decente, muito menos dinheiro para comprarem uma casa e um terreno no lugar seguro faz com que muitos de nós filhos desse Brasil habitem em locais impróprios em condições precárias. Outros (ricos e milionários) para ostentar riqueza e prestígio também constroem em encosta de morros e grudados ao mar, negligenciando a lei e se sentindo acima do bem e do mal, até porque leis maravilhosas temos, mas infelizmente sempre quem paga o pato é o pobre, pois dificilmente os órgãos públicos jogarão por terra mansões de milionários, até porque eles são os nossos gestores públicos.
Se junta a isso a negligência dos governos seja ele federal, estadual ou municipal, que por não poder e querer muitas vezes oferecer uma moradia decente ao necessitado e não desejar mexer nos poderosos faz vistas grossas permitindo a agressão ao meio ambiente e as leis preestabelecidas.
Soma-se a isso a livre e poderosa ação da natureza que por vezes tem se levantado e feito o que lhe apraz. Pois sempre na história da vida no planeta houve catástrofes naturais. É comum de tempos em tempos furacões, maremotos, terremotos e enchentes. E não foram poucas as devastações em massa ocorridas com a fúria da natureza. Esse é um ciclo natural e ininterrupto, todavia, esse problema tem sido agravado pela ação antrópica, ou seja, humana. A humanidade se tornou para o planeta o Satã da terra, o câncer que tem carcomido os ecossistemas, os recursos naturais, a fauna e a flora. Além da irresponsabilidade, aliado ao consumismo e ao desperdício. A falta de amor a vida, aos semelhantes e a mãe natureza, que de tanto ser afligida tem vindo de tempos em tempos cobrar o seu preço. Muitas das vezes caro e doloroso, como esse que estamos assistindo estupefatos, boquiabertos e com o coração na mão.
Mas como têm sido constatado muitos dizem que Deus é o culpado. Será? Até quando nossa insensatez, cegueira e hipocrisia nos encobrirão. Até quando procuraremos culpados se a culpa é nossa, esta nos nossos atos, na nossa ganância e no modo de ser e viver. Esta nos maus políticos que elegemos, pois a grande maioria teve seu voto comprado e trocado por migalhas que satisfez seu ego, em detrimento a melhoria da coletividade. Por isso nossas leis não são cumpridas, pois a maior bancada do Senado e da Câmara dos Deputados é a bancada ruralista, composta por fazendeiros, madeireiros, agricultores e criadores de gado que são os destruidores do maior patrimônio universal, a Floresta Amazônica. E querem mudar o nosso Código Florestal, para poderem destruir mais a floresta e fazer as suas mansões bem próximas a rios e mares.
Ai eu fico indignado por ver tamanha estupidez e ignorância capazes de fazer os homens culparem Deus se de fato a culpa é nossa, ou então é a livre ação da natureza. Que na verdade só quer tomar aquilo que é seu que lhe pertence.